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A poesia corporal de Giovani Miguez

event_note19/06/2025 17:15
Giovani Miguez é um poeta inquieto. Desde de suas Quase Histórias em 2019, são 18 livros publicados, sempre ligados a uma premência existencial que, não cabendo em si, explode em uma poética aguda dona de uma est(ética) original muito cativante. A poesia de Miguez nasce de sua relação com o mundo, da tentativa de entender a existência (sua e de todos nós, já que o ser um ano é um bicho complexo feito da mesma humanidade).

O livro Animal Poético, de 2020, traz uma tese central na produção do autor: o homem é um animal poético por natureza. Tal animal poético “… é um elo entre nossa condição sensorial/material e a nossa condição ideacional/espiritual.” Depois de várias obras onde a poética de Miguez passeia pela humanidade enquanto essência, pela existencialidade, como nos livros Em terceira pessoa (2021), que tive a honra de prefaciar, Poesofias (2023), nos volumes I e II de Na escuridão da travessia, poesia (2022), Garrafas ao mar(2023). Depois de todas essas obras o "animal poético" volta-se ao corpo estabelecendo o que ele chama de “poética do cuidado”. Em Eufonia, euforia e agonias (2024), que traz belíssimo prefácio do grande poeta Christovam de Chevalier, a preocupação com corpo pode ser sentida na busca de uma sonoridade reconfortante, apesar das agonias da existência.

Mas é na obra que acaba de ser lançada, a plaquete Corpo poema, que Giovani se dedica inteiramente ao corpo humano. Não, não é uma poética de anatomias. É uma poética de sensações que chega através do corpo e seus sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato).

O poema que abre a plaquete, “Corporalidade”, avisa que


"no corpo,
a alma se entranha.
na pele,
o mundo toca,
a luz, o frio, o ardor
e os sentidos, fieis,
tecem uma teia estranha
em que o ser se revela,
eterno sonhador. "


O poema segue enfatizando cada um dos sentidos humanos. Cada sensação que podemos facilmente identificar por experiência própria. Sentimos todos fome, sede, frio, febre, cortes, estridências, tremor, frêmito, amargor.


Em "Poéticas do corpo", uma sequência de pequenas construções adverte quanto ao julgamento social do corpo:

“o espelho social dita o que é belo,
a carne se ajusta ao padrão,
num duelo.”


É uma luta para encaixar-se nos padrões sociais. Busca-se meios de “fitar” no modelo e a liberdade da consciência humana cai em esparrelas de

“promessas de um corpo idealizado,
a busca incessante, um ser aprisionado.”


Nada mais que prisioneiros somos nós.

Nesta obra, o corpo é ninho, é aconchego, é desejo, é prisão. Através dele a alma interage. O corpo de Gaia, do próprio planeta, é evocado dentro do olhar dos povos originários.

Os poemas sobre a materialidade do corpo não são menos filosóficos. Não são carnais no sentido estrito. Lembremos que na poesia de Giovani Miguez, artesanalmente construída, “no corpo / a alma se entranha”.

Essa obra curta que lemos em um fôlego (quando a pegamos não queremos largar) é grande com respeito ao tanto que nos toca. A leitura é, com certeza, de certa forma, um cuidado para o corpo e para a alma.

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